Em meio a uma “guerra” de versões entre a jornalista Patrícia Lélis, 22 anos, e o gabinete do deputado pastor Marco Feliciano (PSC/SP), mais um fato veio à tona neste sábado (6). Desde que começou a denunciar acusações de assédio, agressões e tentativa de estupro, a Coluna Esplanada, do portal UOL, afirmava que tinha prints de conversas entre a jovem e o parlamentar. Nelas, ele assumiria a agressão e ela era retratada como vítima.
Enquanto Lélis divulgava vídeos na internet avisando que eram mentiras “da esquerda”, áudios com a voz dela e do assessor de Feliciano, Talma Bauer, também “vazaram”. O bate-papo em uma lanchonete de Brasília mostra que a jornalista tinha o hábito de gravar suas conversas relativas ao caso.
O conteúdo revela uma tentativa de Patrícia em resolver algumas pendências dentro do PSC, partido ao qual ela estava ligada. Ela menciona que estava sendo prejudicada no seu relacionamento por um jovem de nome Tiago. Insistia ainda para que Feliciano reconhecesse as agressões e o assédio.
O caso começou a receber atenção dos jornais e de políticos rivais do pastor. Foi aberta uma investigação criminal em São Paulo, onde Patrícia esteve nos últimos dias. Nesta sexta (5), Bauer foi detido, interrogado e liberado. Ele precisará responder pelas acusações, que incluem cárcere privado. Patrícia, que estava acompanhada da mãe, dizia ter sido ameaçada de morte pelo assessor e pelo presidente do PSC, pastor Everaldo.
Contou ainda que foi obrigada por Bauer a gravar os vídeos com o desmentido e recebeu a oferta de “um saco de dinheiro” por seu silêncio.
Quem acompanha a jovem nas redes sociais vê que ela estava em São Paulo na companhia de amigos e fazia publicações com frequências nas redes sociais mostrando isso, o que dificulta as acusações de cárcere privado.
Os printsNo mês passado, durante um enfrentamento público de Feliciano com o humorista Gregório Duvivier, em uma das publicações do pastor no Twitter, uma imagem postada por ele mostrava o print de uma conversa com Patrícia. Provavelmente adicionada por engano, revelava que jovem mandava fotos insinuantes para ele, onde estava seminua.
Agora, estão sendo divulgadas mais imagens de conversas entre a jovem e o pastor. A sequência deixa claro que ela buscou uma aproximação com ele, revela que sofreu estupros seguidos na adolescência e que tinha problemas espirituais.
Sendo Feliciano um líder religioso, ela pede ajuda para ele, e também que a coloque em contato com a psicóloga Marisa Lobo. Amiga do deputado de longa data, ela pertenceu ao PSC, mas hoje está no Solidariedade concorrendo a uma vaga como vereadora em Curitiba.
Depois de uma audiência pública no Senado, Patrícia entrou em contato com Feliciano pela primeira vez pelo aplicativo, onde afirma: “Estou feliz em estar ao lado do senhor e dos Bolsonaros”.
Em seguida, narra que sofreu estupros e conta mais sobre sua vida pessoal. A resposta do pastor mostra que não havia intimidade, uma vez que ele pede para que ela diga novamente o nome. Ela confirma que é Patrícia, e lembra que é do PSC de Brasília. Ato contínuo, alega ter “sentido comunhão” e pede conselhos.
Segue então um relato extenso, onde diz que com 15 anos foi violada por várias vezes. A pessoa, que alguém próximo da família, foi esfaqueado por ela e isso resultou na cadeia do acusado. A certa altura ela afirma que ficou com traumas depois dessa situação.
“Tomei raiva de homens. E ainda hoje sonho. Acordo desesperada. E quando estou ansiosa ou não consigo o que quero eu me corto. Às vezes sinto mordidas pelo corpo. Ouço vozes. Pastor, será que ele plantou demônios em mim? Fui em algumas igrejas que falam de ligação de alma. Já fiz quebra de maldição. Quebra pacto. O senhor acha que preciso de libertação ainda?”, escreveu.
Após explicar que já procurou vários psicólogos, pede que ela a apresente para Marisa Lobo. O deputado lembra que “o mundo espiritual é terrível sim” elogia Marisa e finaliza: “Nada melhor do que orar”.
Além de afirmar conhecer várias pessoas do convívio do deputado, como a doutora Damares Alves e o senador Magno Malta (PR/ES), se oferece para ajudar na CPI da UNE, inciativa de Feliciano, que estava sendo muito debatido na época.
Pelas características do aplicativo, fica claro que se os prints forem verdadeiros, foram tirados do telefone do deputado. Há um intervalo de tempo entre a primeira conversa e as outras, que giram em torno de um relacionamento com Thiago, líder do PSC do Paraná, a quem ela se referia nos áudios com Bauer.
Patrícia começa então a enviar fotos sensuais e faz elogios ao pastor Feliciano, dizendo que ele é bonito. Ele a chama de “atrevida” e logo em seguida, questiona: “Que fotos são essas?”. Também faz um pedido: “Olha, me desculpe mas acho que você está se equivocando comigo. Não estou gostando do rumo desta conversa. Não quero que me envie fotos tá?”.
Ela não gosta da resposta, menciona que teve atritos com outras pessoas no PSC, incluindo o deputado Eduardo Bolsonaro. “Agora o senhor me dá sermão? Acho que vou mudar de partido. PT ou PC do B”, ameaça.
Há um outro intervalo antes que ela volte a procurar o deputado Feliciano, acusando-o de estragar seu relacionamento com Thiago. A maneira como o parlamentar responde deixa claro que ela estaria usando mentiras e o nome de Silas Malafaia indevidamente.
Pede então que ela pare com isso. “Patrícia, toda mentira tem perna curta. Eu, na tentativa de te ajudar, porque você disse que ele gosta de mim como pastor, liguei pra saber o que ele queria. Resultado, ele me disse que você está obsessiva, parecendo uma louca! Que não para de ligar pra ele, e mais, e tem mais, ele me falou do e-mail que chegou como se fosse do pastor Malafaia pedindo pra ele te namorar! Que loucura é essa? Ele também falou que você disse a ele que sou seu pastor. Como isso? Se nem igreja tenho em Brasília? Você disse a ele que é amiga da minha filha… Falou da vereadora Carla de Curitiba, que ela quase estragou meu casamento. De onde você tira essas coisas loucas? Patrícia, chega! Não quero mais conversa com você. Adeus!”.
A resposta dela mostra descontrole e raiva. Ofende vários membros do PSC, incluindo Eduardo Bolsonaro e Everaldo. “Vocês deste partido de m… não prestam mesmo”, insiste. Seguem então duas imagens dela tomando banho, como uma provocação: “Vocês vão perder isso, ó. Olha minha pintinha que fofa!”. Diante do silêncio de Feliciano, usa a Bíblia: “Não vai mais falar comigo? Me perdoa vai? É 70 x 7 não é?”.
Como o deputado não dá retorno, ela mostra que possuía um plano: “Bom, já que não fala comigo por aqui, darei um jeito de chamar sua atenção… Vocês vão se arrepender kkkkk”. Diz que conhece deputados do PT e do PCdoB. “Tem certeza que não vai mais falar comigo? Olha que eu posso resolver falar com eles, hein?”, diz a última mensagem, deixando claro que há uma conotação política.
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